Com a chegada da primeira lua cheia do calendário lunar, termina a época das comemorações do ano novo Chines. Passaram 15 dias cheios de rituais, superstições, reuniões familiares, muita comida, bebida e músicas típicas, e para terminar temos o Festival das Lanternas, que marca também o retorno da primavera.
Este, é um festival cheio de luz, beleza e encanto, e mais uma vez cheio de particularidades.
Vamos começar pelo princípio, e o princípio leva-nos para mais de 2000 anos atrás, e para o início da dinastia Han (entre 206 a.C e 220 d.C), e para o Imperador Han Mingdi, grande defensor do budismo no país. Conta a história, que o Imperador ouviu, que alguns monges, no décimo quinto dia do primeiro mês lunar, iluminavam com lanternas os templos, mostrando deste modo respeito ao Buda. Então, ele ordenou que todos os templos, casas e palácios reais acendessem lanternas nessa noite, e gradualmente, passou a ser um costume fazer isso por todo o império.
Mas, há quem diga, que a origem do festival vem do primeiro imperador a unificar a China, Qin Shihuang, ordenando que as cerimônias fossem realizadas neste dia, como forma de adoração à Tai Yi, o Deus dos Céus, na esperança de receber bênção e graça divina.
Mais tarde, o Imperador Han Wudi tornou este evento uma celebração oficial, e que durava até o dia seguinte.
Encontrei, ainda, outra versão quanto às suas origens. Segundo esta lenda, nos tempos antigos, uma Garça sagrada azul, desceu dos céus até a terra, mas durante o voo a criatura divina perdeu-se, e os aldeões com medo que ela fosse uma besta feroz mataram-na. O Imperador de Jade, ao saber que a sua criatura favorita tinha sido morta por humanos, ficou extremamente chateado e cheio de raiva. Então, deu ordem ao seu exército para que destruísse a aldeia. Para sorte dos aldeães, a filha do imperador de jade, que era uma deusa graciosa e bondosa, avisou-os das intenções do pai. Com a notícia, entraram em desespero, mas um velho sábio engendrou um plano para se conseguirem salvar, e instruiu que todos pendurassem lanternas vermelhas ao redor das suas casa, e que, ao mesmo tempo soltassem fogo de artifício, simulando deste modo um grande incêndio. Quando o exército do imperador chegou para destruir a aldeia, viu as luzes, o fumo, ouviu o barulho das explosões, acharam que a vila já estava a arder e voltaram para trás. Desde então, para celebrar a sobrevivência da aldeia perante esta crise, as pessoas acendem lanternas.
Seja qual for a origem, O Festival das Lanternas, ou “元宵節” (Yuánxiāojié), como é chamado em mandarim, tem grande importância, tal com o seu nome indica, pois ele se relaciona com o primeiro mês do ano (yuán), e com uma palavra chinesa antiga para noite (xiāo), ambas têm grande significado para a cultura chinesa.
Para além de acenderam as lanternas, outros hábitos e rituais são característicos deste festival, como o de se comer yuanxiao, ou tangyuan, que é um pequeno bolinho de massa em forma de bola, feito de farinha de arroz glutinoso ou de farinha de trigo, com recheio dentro e que podem ser cozidos na água, no vapor ou podem ser frito. A forma redonda do bolinho simboliza a união e coesão da família. Tradicionalmente, o yuanxiao tinha recheios de açúcar, nozes, gergelim, pétalas de rosa, casca de tangerina adoçada, pasta de feijão vermelho, tâmara, pasta de semente de lótus ou frutos secos, mas atualmente, é mais comum terem recheios salgados, com carne picada, legumes ou uma mistura dos dois.
Sendo a China um país muito grande, existem vários tipos de yuanxiao, mas o hábito de comer esses bolinhos recheados, com a família reunida e numa atmosfera alegre, é a parte mais importante deste dia, é como uma superstição para atrair boas energias.
As tradicionais lanternas eram grandes e coloridas, eram arredondadas e muitas vezes imitavam a arquitetura chinesa antiga. A estrutura era, geralmente feita de bambu, e depois era coberta com papel colorido ou seda, mas atualmente, as folhas são de plástico e cobrem armações de arame.
Seguindo outra tradição, que remonta da dinastia Song (960-1279), as lanternas têm penduradas ou fixas escritas em papel, com adivinhas ou enigmas, e quem conseguir decifrá-las tem direito a um pequeno presente. É uma atividade interessante, divertida e que permite transmitir sabedoria, o que a torna popular entre todas as classes sociais.
Para além do já falado, realizam-se outras actividades sociais e que variam conforme as diferentes regiões da china, mas o lançar fogo de artifício, fazer a dança do leão e do dragão, ou andar com “pernas de pau” são dos mais habituais.
Os chineses nesta noite, também gostam de apreciar a lua cheia que brilha no céu.
Qualquer motivo é bom para festejar, agora tem mais um, acenda uma lanterna, escreva um enigma, reúna-se com a família e aprecie a Lua.